Evento discute a qualidade da educação ofertada a adolescentes privados de liberdade

EM um auditório lotado pessoas assistem a palestra de duas pessoas.

A iniciativa da 3ª Vara da Infância e da Juventude de Vitória reuniu integrantes do Sistema de Justiça, da SEDU, do IASES e socioeducandos da região metropolitana.

Na última sexta-feira (18), o auditório da Corregedoria Geral da Justiça foi palco para o seminário “A Escola na Socioeducação: Alinhamentos Necessários e Horizontes Possíveis”, que reuniu integrantes do Sistema de Justiça, do IASES e das Secretarias de Educação e Direitos Humanos, além de jovens que cumprem medida socioeducativa. O evento, de iniciativa da 3ª Vara da Infância e da Juventude de Vitória, teve o objetivo de discutir a qualidade do ensino que vem sendo ofertada nas unidades de internação da região metropolitana.

A mesa de honra foi composta pelo juiz titular da Vara, Vladson Couto Bittencourt; pela representante da Secretaria de Educação, Mariane Luzia Folador Dominicini; pelo presidente do IASES, Bruno Pereira Nascimento e pelo representante da Secretaria de Estado de Direitos Humanos, Charles Francisco Rozário.

A primeira palestra foi proferida pela convidada especial Jacyara Silva de Paiva, professora da Universidade Federal do Espírito Santo, que enfatizou sobre a importância dos atores da socioeducação se fazerem presentes na vida escolar dos adolescentes. “Essa presença amorosa, psicológica, é muito importante na ação educativa. É preciso mergulhar no cotidiano do menino. Saber ouvir e perceber o que ele precisa. Não adianta técnicos e doutores sentarem em uma mesa para pensar na melhora do processo educativo se o próprio jovem não for ouvido”.

Professora Jacyara

Na sequência, a assistente social Bárbara Colombi apresentou o Relatório produzido após a realização das Inspeções Temáticas pela 3ª Vara da Infância e Juventude de Vitória, que comparou as condições dos espaços pedagógicos das unidades de internação de Cariacica e Vila Velha com as condições das escolas de referência na comunidade. Na ocasião, a equipe da vara visitou pessoalmente os locais, ouviu adolescentes e coordenadores e detectou dissonâncias quanto ao material didático e esportivo oferecido, acessibilidade a livros, tempo de duração das aulas, merenda, disponibilidade de tutores, entre outros aspectos.

Barbara apresenta relatorio das Inspeções Temáticas

“Na escola da comunidade de Cariacica enquanto conversávamos com o coordenador na biblioteca, percebemos que havia uma professora acompanhando um menino com autismo. Já na escola da unidade, não havia essa disponibilidade de tutor especial. Nas escolas de referência, os refeitórios são coloridos e as merendas são bem servidas. Já na unidade de internação os adolescentes comem apenas uma fruta em um intervalo de 10 minutos”.

Outro aspecto observado durante as inspeções foi a relação professor, autoridade e família. “Em qualquer intercorrência que aconteça dentro da escola das comunidades, é chamada a família. Quando isso acontece nas unidades, normalmente a família pouco participa da resolução dos conflitos”.

O relatório das Inspeções Temáticas deu origem a uma “Carta de Intenções” que será assinada pelo IASES e pela SEDU. Além disso permitiu a elaboração do Projeto “Livro que te quero livre”, apresentado no seminário pela assistente social Joseane Alves.

“É um projeto de incentivo à leitura dentro das unidades, uma vez que o diagnóstico mostrou a dificuldade de acesso aos livros por parte dos adolescentes e a subutilização das bibliotecas. A ideia é que os socioeducandos leiam uma obra por mês e produzam resenhas que serão avaliadas por uma comissão. Haverá um Painel literário onde eles se apresentarão e estímulos para quem participar do projeto. Queremos fomentar a consciência crítica e provocar uma reflexão sobre o papel da leitura na transformação social”.

O ponto alto do evento foi o depoimento de um estagiário da Defensoria Pública Estadual, egresso do sistema socioeducativo, que emocionou a plateia ao falar sobre sua trajetória escolar: “Hoje como estudante acadêmico, futuro jurista, tenho a capacidade de pontuar com a propriedade de quem viveu as dificuldades relacionadas à educação, dentro e fora da unidade. Só tive acesso à escola com 5 anos de idade e em 09 anos a escola não foi capaz de me apresentar perspectivas de mudança. No final do ensino fundamental abandonei as aulas e logo depois, tive minha primeira passagem pelo crime. No momento exato em que a escola deixou de fazer parte da minha vida, a criminalidade foi a porta que se abriu. Se a escola não estiver presente, vai ter o tráfico para te abraçar. E a sua família vai junto”.

O jovem ainda contou que cumpriu medida socioeducativa por quase dois anos em uma unidade de internação. E foi lá que começou a mudar a mentalidade, motivado pelo professor de Filosofia, uma presença marcante em sua vida escolar. “Ele me fazia refletir o tempo todo. E eu pensava: Por que é que eu não terminei meu ensino médio? Por que é que eu não entrei na faculdade? Por que é que eu não posso ser um juiz, um promotor, policial, um psicólogo? Hoje eu estou na Faculdade de Direito. Meu pai voltou para a escola e minha mãe também. A educação é um instrumento de transformação. E o conselho que eu dou para esses adolescentes que estão aqui hoje é: Eu sei que dentro da unidade há muitas dificuldades, mas se tiverem uma oportunidade, tentem abraçar”, concluiu Matheus, recebendo muitos aplausos.

O encerramento foi com a apresentação teatral de adolescentes do Centro Socioeducativo CSE. Para o juiz da 3ª Vara da Infância e da Juventude, Vladson Bittencourt, o evento foi muito produtivo:

“Tivemos a presença de técnicos, professores e servidores da SEDU, alunos, integrantes do IASES e do Poder Judiciário. É a opinião de cada um, expondo suas dificuldades e angústias, que contribui para a gente crescer. É a problemática discutida por todos que vai fazer com que consigamos avançar dentro da educação no sistema educativo. Essa é nossa expectativa. Essa é a nossa esperança”.

Vitória, 21 de outubro de 2019

 

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